Gaza é o Rio de Janeiro. Gaza é o mundo inteiro.

Article in Portuguese about the shocking police massacres in Rio. “Gaza is Rio de Janeiro. Gaza is the whole world”

Original article 29 Oct 2025: https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/29/gaza-e-o-rio-de-janeiro-gaza-e-o-mundo-inteiro/

By A.N.A. on 29 de Outubro de 2025

Por Raúl Zibechi | 29/10/2025 | Uruguai

Não há palavras suficientes para descrever o horror que nos causa o massacre de mais de 130 jovens negros pobres assassinados pela polícia do Rio de Janeiro, com a desculpa de atacar o narcotráfico.

Foi uma operação de guerra urbana em que o governo do estado mobilizou 2.500 policiais militares armados para a guerra, além do envio de blindados e helicópteros para atacar os complexos de favelas da Penha e do Alemão, na zona norte da cidade, uma área com forte concentração de população pobre. São dois conjuntos de favelas com mais de 150 mil habitantes, com uma enorme densidade populacional.

O governo do Rio disse que houve 60 mortos, mas a população das favelas levou às praças mais de 50 corpos que não constavam na contagem oficial, deixando dúvidas sobre quantos foram assassinados. Até agora, o número ultrapassa 120.

As reações não se fizeram esperar, desde organizações de direitos humanos até as Nações Unidas, que se dizem “horrorizadas” com o massacre. Além dos dados, há fatos relevantes.

O genocídio palestino em Gaza é o espelho onde devemos nos olhar, nós, povos e pessoas oprimidas do mundo. Para os que estão no topo, abre-se um período de caça indiscriminada à população “excedente”, porque têm garantida a impunidade. Agora, mais do que nunca, Gaza somos todos e todas. Pode ser Quito, San Salvador, Rosário ou Tegucigalpa; o Cauca colombiano ou Wall Mapu; talvez a montanha de Guerrero ou as comunidades de Chiapas. Agora, todos e todas estamos na mira de um capitalismo que mata para acumular mais rapidamente.

Dizem narcotraficantes com a mesma insensibilidade com que matam palestinos, mapuches ou maias. São apenas desculpas. Argumentos para as classes médias urbanas. Mas a história recente nos diz que eles estão criando laboratórios para o genocídio.

No tranquilo Equador, quando os povos os derrotaram na revolta de 2019, eles reagiram libertando criminosos das prisões transformadas em espaços de extermínio, onde a mídia mostrava presos jogando futebol com a cabeça de um decapitado.

No Cauca, a mineração a céu aberto e o cultivo de drogas exacerbaram a violência paramilitar contra as comunidades nasa e misak que resistem e não se rendem, tornando a região a mais violenta de um país violento.

No território mapuche, tanto no Chile quanto na Argentina, os poderes decidiram que aqueles que não se submetem devem ser chamados de “terroristas”, com o resultado de que hoje há mais presos mapuches do que durante as ditaduras de Pinochet e Videla.

No México, tudo está claro, tão claro que a mídia e os governos não querem que vejamos, mascarando a violência com discursos que apenas mencionam sua cumplicidade. A violência sistemática em Guerrero e em Chiapas deveria ser motivo de escândalo.

No Rio de Janeiro, um sociólogo costuma dizer que o narcotráfico não é um Estado paralelo, mas o Estado realmente existente. Incluindo todos os governadores das últimas décadas, com sua comitiva de empresários mafiosos, de deputados e vereadores que formam um poder herdado dos esquadrões da morte da ditadura militar.

Gaza nos coloca em outro lugar, diante de outros desafios. O primeiro é compreender que a morte é a razão de ser do sistema capitalista. O segundo é entender que esse sistema é integrado pelas direitas e pelas esquerdas, pelos conservadores e pelos progressistas. O terceiro é que devemos nos organizar para nos proteger, porque ninguém vai fazer isso por nós.

O mundo que conhecíamos está desmoronando. Choremos por esses jovens assassinados no Rio, por esses corpos estendidos no asfalto.

Transformemos nossas lágrimas em rios de indignação e torrentes de rebeldia.

Fonte: https://desinformemonos.org/gaza-es-rio-de-janeiro-gaza-es-el-mundo-entero/

agência de notícias anarquistas-ana

A fúria é semente.
Da rachadura no asfalto,
nasce o novo trigo.

Liberto Herrera